segunda-feira, 18 de maio de 2015

Arte.

Em nenhum momento se pode esperar qualquer medida de sucesso no mesmo mundo em que cadáveres reinam e estrelas distantes se vangloriam de seu extinto brilho que chega aos nossos olhos com longo atraso. No momento que escrevo, Seasick Steve está levando uma vida tranquila, mas apenas depois de ter passado décadas sendo chutado e cuspido com força. Elvis Presley está enterrado há décadas e conseguiu um lançamento de duas gravações inéditas em que se materializa um dos itens mais cobiçados dos últimos anos. Loretta Lynn consegue uma estrela na calçada da fama de Nashville, capital mundial da música Country, também conhecida como Music City, mesmo já sendo louvada como lenda do estilo há incontáveis anos. 

Em nenhum momento se pode esperar qualquer medida de reconhecimento no mesmo mundo em que Michael Jackson ainda é uma competição imbatível mesmo depois do notável problema de estar enterrado dentro de uma caixa de madeira. No momento que escrevo, Vangelis está aproveitando a mais bizarra aposentadoria de que se tem notícia no ramo musical, em que trabalha absolutamente todos os dias, sem publicar suas peças por "não querer impôr" suas músicas nos potenciais ouvintes, mas apenas depois de ter passado décadas trabalhando arduamente naquelas que podem ser muito bem consideradas como as mais belas manifestações da música erudita da civilização pós-Tesla. Eminem se recupera de qualquer problema que você prefira acreditar e continua lutando para preservar seu status como Deus do Rap mantendo a pose de Sun Tzu moderno ao relembrar todos os seus fãs de suas inseguranças, incertezas e escolhas erradas. Jack White consegue junto de Loretta Lynn uma estrela na calçada da fama de Nashville, capital mundial da música Country, também conhecida como Music City, mas apenas depois de ser louvado por sua habilidade de viajar com destreza entre inúmeros estilos dissonantes e ainda manter o fluxo de peças marcantes e originais que cativam o mais indiferente dos ouvintes.

Em nenhum momento se pode esperar qualquer medida de respeito no mesmo mundo em que Gene Vincent é lembrado como um dos pioneiros do Rock n' Roll apenas entre os entusiastas da história da música pop, e que alguns poucos conseguem ouvir suas peças originais e reconhecer frases melódicas de Raul Seixas. No momento que escrevo, Dexter Romweber é lembrado por muitos pela sua contribuição ao Rock moderno com sua velha banda, Flat Duo Jets, enquanto é quase completamente ignorada sua manifestação erudita no disco Piano, em que foi comparado seu estilo de composição com aquele de Frédéric Chopin, mas o multi instrumentista mantém sua versátil produção, ouvida quase que exclusivamente por aqueles que se dão ao trabalho de cavar mais fundo no panteão das canções pop. Dan Sartain, outrora numa escalada deveras interessante na escada da fama, agora mantém uma proximidade impressionante (e com leve toque de deprimente) com seus fãs ao vender suas guitarras a preços acessíveis e se dispôr a vender pequenas travessas (cinzeiros e porta chaves, no fim das contas) feitas com cópias derretidas de discos que não cumpriram com suas próprias expectativas. Shovels and Rope impressionam ouvintes pelo mundo com suas canções e inspiram crianças, jovens e adultos com uma qualidade quase indefinível de sua sinergia e dedicação inegáveis, mas ainda assim o conceito de um lançamento com distribuição digna ainda elude o casal, e leva fãs a se restringir às mídias virtuais, diminuindo drasticamente a possibilidade de levar um pouco da Carolina do Sul mundo afora.

Em nenhum momento se pode esperar qualquer medida de originalidade no mesmo mundo em que Lucasfilm é propriedade da Disney, Columbia Records é da Sony, Michael Trent é desconhecido, Jeff Bridges é um vilão meia boca, Heath Ledger é morto, Patti Smith envelhece, Karen Elson é escandalosa, Orion faliu, Amy Walker é viral, Frank Fairfield só tem dois discos, Willie Johnson sofre com a madrasta, Huddie Ledbetter sofre por racismo, Black Night é do Deep Purple, ou que Dr. Luke existe.

A todo momento se deve aproveitar a beleza encontrada, compartilhá-la com quem pode apreciar, converter quem ainda não pode e buscar continuamente por algo novo e incrível. Não existe sentido em lamentar a ausência de qualquer coisa se não existir a disposição para colaborar ao seu nascimento ou aperfeiçoamento. O motivo para se fazer absolutamente qualquer coisa é único, tudo se resume a uma tentativa de se trazer algo novo, seja uma música, um livro, um filme ou uma vida, mas é isso a arte, a busca de prolongar a si e ao mundo. E, na pior das hipóteses, a beleza ainda pode ser encontrada na busca.

Stop ramblin', stop gamblin',
Stop staying out late at night
Go home to your wife and your family
Stay there, by the fireside bright...

           - Leadbelly

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pop na vida e na morte

Todos os dias vejo postagens em redes sociais sobre como tal música foi feita pra tal pessoa, como tal filme é um retrato fidelíssimo sobre tal evento de tal época de tal pessoa... A pior parte é que os mesmo que ficam bradando isso aos quatro ventos são aqueles que acham isso bonito!
Alguns anos atrás assisti ao filme "Foi Apenas um Sonho" com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet e, por pura coincidência, havia acabado de sair de um relacionamento consideravelmente desastroso. Assim que começam a passar os créditos finais, começo a sentir uma depressão deveras assustadora. Percebo que a relação amorosa horrenda entre os personagens principais era um retrato quase perfeito do desastre romântico de que falei há pouco (com papéis invertidos, eu era o equivalente ao DiCaprio. Quem conhece o filme não precisa me julgar). Mas não achei isso legal, ou místico, ou nada do gênero, o que eu quis foi me isolar do mundo! Um evento tão complicado na minha vida se resumiu a duas horas na tela! Diálogos inteiros foram reproduzidos na peça quase-fictícia com uma ressonância absoluta nas discussões que tive poucos meses antes.
A parte que me assustou foi a dúvida. Será mesmo que somos tão sem graça a ponto de uns poucos minutos ou umas poucas horas de manifestações artísticas são o bastante pra nos resumir? Cada pessoa é realmente uma maquininha quebrada que entrou em looping em termos de relações com outras pessoas? 
Nesse blog nos propomos a discutir eventos e ideias relacionadas à cultura pop, mas em nenhum instante consideramos o impacto psicológico que essas discussões podem ter, se trazidas no nível apropriado para tal. Sim, gostamos de rock, jazz, terror, vinil... Mas e daí? O que isso significa realmente? Queremos ouvir Dead Weather por ser agradável e diferente, ou por refletir alguma coisa nossa de um jeito fiel? Preferimos Hellraiser a Sexta Feira 13 por sensibilidade artística, ou por termos um ego tão grande a ponto de nos identificarmos com demônios e não com psicopatas? E quem lê e gosta dos textos daqui, acha que encontrou almas gêmeas nos autores?
Será que a cultura pop tem um poder muito maior do que antecipamos? Ou será que somos simples ao ponto de uma música de dois minutos e meio fazer a gente chorar com lembranças do passado?

Eu admito, sou egocêntrica demais. Ouço as baladas românticas do Bob Dylan e fico pensando "realmente, [nome censurado] foi um babaca. Mas não foi culpa minha", e o evento do "Foi Apenas um Sonho", acabei  preferindo acreditar que foi apenas um caso isolado! Graças a essas conclusões vaidosas me sinto capaz de julgar os playboyzinhos e as patricinhas que saltitam pelo mundo com esses discursos no estilo "bob marley é do c*****o! eh minha cabeça inteira!" (eu sei, eu sei... Mas foi tirado do twitter. Realmente vi esse texto). Reconheço também que esse discurso "tenho muitas falhas e sei quais são" não deveria me habilitar pra falar do ridículo dos outros, mas algumas coisas não dá pra segurar...

A tradição entre a gente é trazer coisas novas, pois bem. Queria convidar a todos os leitores pra algum tipo de resposta. Propus várias perguntas, todas relativas ao universo popular. Que tal tentarmos respondê-las? Eu já defendo a tese de que o ser humano é uma criatura medíocre e com pouca imaginação no que se trata de relacionamentos (amoroso, de amizade, de trabalho, o que for...), alguém discorda? 
Se algo tão superficial como o pop nos retrata com fidelidade, alguém consegue discordar, ou somos todos "another brick in the wall"?


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Intangível

Em 1987 saía das páginas escritas por Clive Barker a história de Hellraiser. Filme de baixo orçamento, elenco (em grande parte) inexperiente e uma equipe jovem e sedenta. Louvado por público e crítica pela sua originalidade tanto sob um aspecto dramático quanto técnico (os efeitos visuais chamaram especial atenção, não se esperava que com tão pouco dinheiro disponível fosse possível obter resultados tão belos e aterradores). A história é relativamente simples, girando em torno de um quebra-cabeça no formato de um cubo que, quando resolvido, abre as portas do inferno para os chamados Cenobites, criaturas com visual um tanto demoníaco que buscam almas a serem torturadas pela eternidade:
"Angels to some, demons to others"
Graças ao sucesso do filme, surgiram oito continuações, uma série em quadrinhos, e toda espécie de mercadorias relativas à série (principalmente da personagem constante em todos os filmes, apelidada pelos fãs como Pinhead). Citando como exemplo do rico aspecto dramático do filme, pontuemos um elemento: em vários dos filmes temos a personagem Kirsty, uma moça jovem, dedicada à possibilidade de uma vida melhor.
Claro que existem certas limitações sobre quem pode abrir as referidas portas infernais. Os considerados "inocentes" estão imunes aos poderes do inferno, o que abre espaço para a reflexão dentro desse universo sobre quem, realmente, é inocente. A personagem que citei há pouco, Kirsty, aparece desde o primeiro filme como uma vítima. Uma inocente capturada no fogo cruzado da guerra entre os humanos atrás de experiências extremas e os Cenobites. Mas ela foi capaz de abrir a caixa.
Em uma das várias continuações, sua personagem reaparece, mostrando sua natureza de forma muito mais intensa, mas continua se escondendo atrás de máscaras de inocência.


Em 1980 era lançado sob a direção de Sean S. Cunningham o filme Sexta Feira 13, originalmente criado como forma de aproveitamento do sucesso de Halloween (lançado em 1978, marcou o começo de toda uma geração de filmes de psicopatas especializados no assassinato de jovens), acabou por ter um público cativo independente do filme de John Carpenter. História (novamente) simples, mas sem o charme de Hellraiser, uma série de assassinatos desencadeados pelo suposto afogamento de Jason Voorhees quando criança em um acampamento de verão (resultado de distração dos jovens responsáveis pelo garoto e seus companheiros).
Franquia com dez filmes seguindo uma linha temporal para a história, um crossover (Freddy vs. Jason), um remake (que narra a história do primeiro ao quarto filme), uma série de televisão, e (novamente) mercadorias diversas, foi claramente um sucesso assombroso, quase que incomparável no cinema terror.
Sem grandes aspectos poéticos (com exceção dos explorados no quarto filme, pela personagem interpretada por Corey Feldman), a franquia de Sexta Feira 13 se sustenta basicamente na repetição da história do primeiro filme. Mortes violentas de jovens desatentos.


"This isn't funny!"


Agora fico me perguntando num estilo John Cusack em Alta Fidelidade: Será que somos insensíveis por assistir filmes como Sexta Feira 13, ou assistimos filmes como Sexta Feira 13 por sermos insensíveis?
A apresentação das mortes na franquia de Jason é algo tragicômico, personagens horríveis morrem nas mãos de um sujeito que não tem nenhum senso de humor. O cinema trash pode ser algo realmente divertido (qualquer um que assistiu os novos "Piranhas" consegue entender o que digo), e são aqueles que divertem que conseguem marcar e resistir ao tempo. Christine (o carro assassino, lembram?) é um filme trash, mas com humor e poesia! Inúmeros outros exemplos já foram lançados, e em diversas épocas.
O primeiro Hellraiser teve orçamento de um filme B, mas a história recebeu grande parte do investimento, habilitando-o a ser um dos maiores clássicos do estilo. Sexta Feira 13 recebeu grande parte do investimento nas atrizes e em seus seios.

O ponto disso tudo é que eu realmente queria entender como pode um vilão como o Jason (que mal entende o que acontece ao seu redor) ser tão louvado, e tão famoso (ao ponto de ser feita uma produção realmente cara como Freddy vs. Jason que mencionei) e Hellraiser fica nos anais do cinema britânico enquanto os fãs esperam que a originalidade das histórias tenha um financiamento compatível. O público é tão insensível e apático (espelhando o Jason) a ponto de não ser sequer capaz de apreciar a poesia em Hellraiser?
Admito, demorei pra prestar atenção em qualquer um dos dois filmes. Perdi grande parte do gosto pelo cinema terror na minha infância. Mas recentemente resolvi pular os preconceitos e assistir esses dois marcos culturais. Como todo bom apreciador da sétima arte, uma das coisas que procuro em todo filme que vejo é o aspecto de originalidade. O que difere aquilo que estou assistindo de todo o resto que já vi antes? E essa foi a questão que fez eu me encher de Jason Voorhees. Ele é um zumbi sem falas, sem grandes objetivos de vida (proteger sua tumba de adolescentes excitados não me parece algo muito glorioso) e sem um pingo de mistério (a única coisa a respeito de Jason que não é revelada é o motivo de sua suposta imortalidade). Mas Pinhead (vilão constante da série Hellraiser, interpretado sempre pelo britânico Doug Bradley) é aquilo que se espera de um vilão. Claro que existe uma exploração da dualidade da personagem, mas a capa do mistério sempre sobrevoa nosso Cenobite. Em nenhum dos filmes que vi até agora existe uma explicação para as ações dele. Apesar de termos pinceladas gerais para responder essa e algumas outras perguntas direcionadas à natureza de Pinhead, é o desconhecido que impera na personagem. Sendo que, além do óbvio mistério acerca da personagem, temos também uma criatura demoníaca com apurado senso de humor! Ameaças dúbias, discussões filosóficas com vítimas, espaço para barganhas. Um enriquecimento completamente humano torna a violência muito mais intensa. Essa riqueza da personagem que permite a riqueza nas histórias. E é isso que atrai a mim e milhares de outros fãs.

Que fique claro que cito aqui apenas dois exemplos de uma miríade infindável de títulos (cinematográficos, literários e musicais) pra que seja possível uma absorção mais fácil da questão que levanto. Quem não conhece nenhuma das duas séries que mencionei, ressalto que são parte da cultura obrigatória no mundo ocidental. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

TMR, RRS, LB, ILB etc.

Já mencionei em postagens anteriores uma gravadora chamada Third Man Records, assim como também um clube especial criada por ela, reservado a membros dispostos a fazer o pagamento trimestral de sessenta dólares, chamado The Vault (O Cofre). Esse clube oferece para seus membros, seguido do pagamento da trimestralidade, um pacote (que também já mencionei) que envolve um LP, um single e algum item bônus (variável de acordo com o pacote) que só estão disponíveis, depois do vencimento da inscrição, no eBay, Amazon, e alguns outros sites de revenda (os vendedores são os conhecidos flippers. Aqueles que compram material exclusivo de difícil acesso com o único objetivo de revenda, sem nunca ouvir, apreciar, ou sequer gostar daquilo que compram). Eu sou, desde Janeiro de 2012, membro do cofre da Third Man, e cada pacote que recebi trouxe suas agradabilíssimas surpresas, mas eles não foram o único benefício que minha filiação trouxe. Graças à minha fidelidade à única gravadora que me empolga hoje em dia, recebi (como todos os outros membros) a possibilidade de comprar uma edição especial e limitada do Blunderbuss (disco de estreia da carreira solo de Jack White, que também já foi tema de postagem).
Quase todos os lançamentos da referida gravadora possuem alguma edição especial, incluindo (mas não se limitando a) discos bi e tri-colores, versões que brilham no escuro, discos dentro de discos, e assim vai. No caso do Blunderbuss, o lançamento especial foi o Lightning Bolt, um disco negro com uma faixa azul atravessando-o, disponível apenas na Rolling Record Store (Loja Móvel de Discos, que estava estacionada em várias das cidades em que Jack White visitou em sua turnê). Como era de se esperar, a RRS não visitou o Brasil, então minha única possibilidade, como bom viciado, seria desembolsar algo em torno de 300 e 500 dólares que os desgraçados dos flippers cobram.
Mas a TMR, consciente que nem todos os seus fãs estão em lugares em que o acesso à loja móvel seja conveniente, fácil ou barato, disponibilizou uma nova versão especial do disco à venda no site do Cofre, no valor de 20 dólares (mesmo preço da edição normal), com a promessa de que, caso os números de vendas não fossem atingidos dentro do nosso clube, a venda iria se expandir para a loja virtual (disponível a qualquer um que tivesse interesse, enquanto houvesse estoque). Sem querer perturbar os fãs que haviam acampado nas ruas, esperando a oportunidade de comprar o Lightning Bolt, surge então o Inverted Lightning Bolt (semelhante a seu predecessor, mas com as cores invertidas). Fui um dos 15 primeiros a comprar a nova edição, empolgado como uma criança no Natal.
Já havia feito diversos contatos com funcionários da TMR, reclamando de atrasos, elogiando serviços, agradecendo a atenção e especificando o tipo de material que gostaria que fosse lançado. E sempre fui muito bem atendido. Profissionais atenciosos respondiam prontamente a (maior parte de) meus e-mails, nunca deixando a desejar. Então, não satisfeito com minha entrega de centenas (talvez já tenha alcançado os milhares) de dólares nas mãos deles, resolvi escrever uma nova mensagem:

"Hello there!
I am probably one of the most pain-in-the-ass clients you guys have. Every quarter and every record I buy off of you guys I get all jumpy and nervous, start screaming about when it will get here, how long is the normal waiting period, why aren't the records sent by some TMR official postal service rather than counting on local post offices...
But I gotta tell you... Every single day I go through the Vault, news, and photo galleries just to get a glimpse of what you see every day. I am planning a trip to Nashville in the distant future with the Third Man HQ as my main stop. And every time I see some new announcement, I just flip, man!
This new release, the Inverted Lightning Bolt, was the kind of thing I've fantasized about (the same as so many others fans, like me, who -right now- can't get anywhere near the RRS, or the HQ). Through sheer luck, I was able to get my hands on this totally amazing copy of Jack White's Freedom at 21 flexi disc (which is the gem of my TMR collection), and these albums you're putting out make my appreciation for the music industry today get a newfound strength.
In short, I'd just like to thank you all for helping fans all over the globe to be not only witnesses, but also a part of a new page of musical history.
Peace."

Olá!
Sou, provavelmente, um dos clientes mais chatos que vocês têm. Todo trimestre, e todo disco que compro de vocês fico realmente tenso e nervoso, começo a reclamar sobre quando vou receber o material, qual o tempo normal de espera e qual o motivo de não poder contar com um sistema oficial de entrega da própria gravadora, ao invés dos correios tradicionais...Mas tenho que dizer... Todo dia vasculho o Cofre, as notícias e galerias de foto só pra ter um relance daquilo que vocês vivem todo dia. Planejo uma viagem para Nashville num futuro distante com o QG da Third Man como minha principal parada. E toda vez que vejo algum anúncio novo, eu piro, cara!Esse novo lançamento, o Inverted Lightning Bolt, é o tipo de coisa sobre a qual eu fantasiei (assim como tantos outros fãs que, como eu, não podem chegar nem perto da loja móvel ou do QG).Por pura sorte, consegui pra mim uma cópia fantástica do flexi disc Freedom at 21, do Jack White (que é a gema da minha coleção da TMR), e esses álbuns que vocês estão lançados fazem com que minha apreciação pela indústria da música de hoje conseguir uma nova força.Em suma, só queria agradecer vocês por ajudar fãs por todo o mundo a não ser apenas testemunhas, mas também uma parte de uma nova página na história da música.Paz. 
Relendo a mensagem, percebo que tive uma reação mais empolgada do que seria saudável, mas realmente me impressiono com o trabalho dessa gente!
Enfim, tive uma resposta (novamente rápida) de Ben Swank, o terceiro no trono pela gravadora, atrás de Ben Blackwell e do próprio Jack White (CEO e arqueologista sênior, como diz seu cartão de visita). Me impressionei! Já conhecia boa parte da equipe através da troca de e-mails (vantagens de uma gravadora pequena), mas nunca havia atingido tão alto na hierarquia. Quando abro o e-mail, um certo grau de decepção acaba aparecendo em mim:

"thank you. 
Ben Swank
Third Man Records
615 891 4393 x306                                                                                                           
623 7th Ave South Nashville, TN 37203"
Não acho que precise de tradução nesse caso.

Reconheço que o volume de mensagens recebidas por eles é grande, que nem tudo pode ser respondido (como já aconteceu comigo), e que a maior parte de elogios e agradecimentos que surgem no fórum do próprio Cofre são ignorados por completo. Não queria uma resposta, só me manifestar. Mas realmente queria entender o motivo de um dos mais ocupados funcionários ali resolveu tirar alguns segundos pra ler minha mensagem e responder algo tão vazio! Realmente imagino algo como o Dana Carvey me respondendo:




Sou fã incurável, sou colecionador do material, sou músico inspirado por vários dos artistas lançados por eles. Não espero ser tratado como único e especial ali, mas ser respondido como um alucinado realmente não estava nas minhas expectativas.
Claro que essa resposta virou piada no meu círculo de amizades, e eu mesmo já respondi alguns elogios do mesmo jeito como referência interna. Mas realmente preferia o silêncio!

"If a torch should get near you, just pretend to be afraid of it.
I don't know why it works, it just does..."

               - Conan O'Brien


*imagem retirada do filme "Quanto Mais Idiota Melhor" (Wayne's World), de 1992.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Blundering Trough Song

Quem me conhece sabe que minhas preferências musicais estão quase sempre no passado, principalmente entre os anos 1930 e 1970. Dentre os pouquíssimos artistas atuais que realmente gosto, existe um elemento comum que é o contato intenso com aquilo que já passou. Entre os modernos, aquele com maior contato com o passado e, portanto, que mais gosto é Jack White, com sua veia poética e caminhos profissionais pouco usuais. 
Membro comum de várias bandas dos anos 1990, iniciou um projeto com sua então esposa, Meg White, chamado The White Stripes. Depois de três discos lançados e algum nível de reconhecimento, aparece a saudosa Seven Nation Army, quase que uma peça folclórica da nossa geração, não é abuso considerá-la a mais famosa música dos anos 2000. Uma carreira de 10 anos tendo Meg como única companheira de banda ajudou a alavancar seu segundo projeto, The Raconteurs, com um foco mais abrangente que os Stripes (provavelmente associado à maior quantia de membros na nova banda), os Raconteurs logo alcançaram sucesso comercial e crítico. Em 2009, dois anos antes do fim da primeira banda citada aqui, nasce um terceiro grupo, The Dead Weather, usado para inaugurar a recém-nascida gravadora Third Man Records. Sem o mesmo impacto das duas bandas anteriores, o Dead Weather consegue um espaço respeitável no círculo artístico com suas influências eletrônicas e blueseiras. Mesmo sendo difícil de acreditar que esse sucesso aconteceria sem a carreira prévia de todos os membros da banda (na guitarra, Dean Fertita, do Queens of the Stone Age, Jack Lawrence no baixo, dos Greenhornes e Raconteurs, Alison Mosshart no vocal, do The Kills e, na bateria, Jack White), algumas peças genuinamente interessantes surgiram.
Então, depois de três sucessos (dois considerados supergrupos), o Sr. White resolve, este ano, assumir uma carreira solo, e logo no primeiro semestre de 2012 o disco Blunderbuss aparece nas lojas. Admito que fiquei, como todo bom fã de White Stripes, empolgado e realmente curioso, e, logo na primeira audição (dentro do metrô lotado, na hora do rush de São Paulo) considerei que havia achado uma nova pérola da nossa época. Mas mesmo com músicas realmente chamativas como On and On and On, Weep Themselves to Sleep e I'm Shakin' (essa última sendo um cover de Little Willie John) algo não me parecia certo. Recentemente rodei o disco mais uma vez e acabei entendendo minha opinião dividida.
Peças como Journey to the Centre of the Earth (Rick Wakeman), Dark Side of the Moon (Pink Floyd), Tubular Bells (Mike Oldfield) ou Led Zeppelin IV (Led Zeppelin), citando pouquíssimas, precisavam ser apreciadas por inteiro. Um braço ou uma perna ainda podem ser de algum uso quando separados do corpo, mas perdem sua verdadeira função e força quando amputados, essa é a analogia mais fiel ao poder de cada música que integrava os referidos discos. Uma história contada através de uma série de canções é uma herança cultural antiga e ainda muito valiosa, tanto num aspecto dramático quanto poético. Robert Plant, vocalista do extinto Led Zeppelin, revelou em entrevista que não gostava de laçar singles (discos contendo de duas a três músicas) justamente por reconhecer o valor do recurso que menciono. Infelizmente, esse aspecto de continuidade é ausente do Blunderbuss.
Uma música atrás da outra no disco de Jack White faz referência a casos amorosos desastrosos, existe um elo unindo cada faixa, mas a variedade enorme de estilos (cobrindo desde um rock influenciado por hip hop de Freedom at 21 até a balada suave de I Guess I Should Go to Sleep) e repetição incansável do mesmo tema não criam uma história, mas um aglomerado de reclamações, uma ótima coletânea.
Ainda considero White como sendo um dos últimos poetas da música pop, com a habilidade e talento necessários para se criar uma obra memorável, mas a mentalidade (assumida pelo próprio) de se tratar cada música como o lado A de um single acaba por roubar o mundo dessa possibilidade.

"Like just 'bout every other tale
Someone's gonna die in the end"
               - Jack White

(texto escrito enquanto o autor ouvia Blunderbuss no modo shuffle.)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

E-mails.


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Todo texto publicado nesse blog passa pelos olhos dos três colaboradores. Frequentemente conversamos por e-mail tentando bolar novas ideias e ver quem se encaixa melhor com determinado tema. Logo abaixo estou publicando um trecho de uma dessas conversas. Achei que ficou divertida demais pra deixar passar.
Os nomes dos colaboradores foram alterados, assim como a redação de cada um, mas sem comprometer nossos estilos. Enjoy!

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Don: Os tempos não são mais os mesmos, cara... Na antiga União Soviética era proibido escutar e até ter discos dos Beatles. Os jovens que eram realmente fãs compravam esses discos no mercado negro. O salário mínimo na época (comum a muitos jovens) era na faixa de 150 rublos, enquanto isso um disco da banda no mercado negro custava na faixa de 80 rublos. Ainda assim eles compravam.
Mas eles tinham problemas pra amplificar o som. Começou uma procura imensa por chapas usadas de raios X. O tráfico disso era surreal. Eles colocavam o disco em cima da placa, uma agulha no disco e rodavam. O som era amplificado e eles conseguiam ouvir. Sem amplificador, sem caixa de som. Só uma maldita chapa.

Dexter: Então agora você é comunista?

Don: Tô falando sério! Onde que tu acha que isso aconteceria hoje? Com que banda? Com que público?

Meg: Eu entendo o que você tá falando, mas a situação era completamente diferente. A música era muito mais do que só umas notas, era uma declaração pra humanidade. Não precisava ser os Beatles, ou os Stones, ou qualquer outra. A questão pra esses jovens era a de que existia um outro mundo, algo radicalmente diferente de tudo o que eles ouviram falar e, por acidente, os Beatles foram os mártires da situação.

Dexter: Essa é a questão que ele tá levantando. Ele tá falando da época em que música não era só entretenimento. Eu concordo que a visão do povo em relação à música mudou, mas a Meg tá certa, o mundo tá diferente.

Don: Ok, então o mundo mudou, a visão mudou, mas nem por isso o poder da cultura pop tem que enfraquecer. Podia ter mudado de forma, como todo o resto. Poderia não significar liberdade, mas dor, indiferença, qualquer outra coisa que marque o mundo de hoje!

Dexter: Acho que o problema é que os poetas que existiam acabaram se cansando, e não tem ninguém pra tomar o lugar. O Bob Dylan, por exemplo. O cara tinha uma voz horrível, fazia músicas cansativas, e só sabia irritar os fãs, mas a poesia dele era uma coisa que atingia as pessoas. Não sei contar quantas versões de músicas dele gravadas por outros que realmente impressionam, e acho que é porque tinha algo realmente potente naquele som. Algum sentimento muito intenso que não dava pra deixar passar, especialmente se você tivesse alma de poeta.

Meg: Mas nem todo mundo era poeta nessa época. Era o povão que curtia o som de alguém como o Dylan, mas era tudo trabalhador, gente que só ouvia isso depois de passar o dia na construção, estacionando carros, correndo atrás de remédio pros filhos, se quebrando pra pagar o aluguel. Sei que esse tipo de gente ainda existe, então como pode ninguém desse grupo ser chamado de poeta?

Dexter: Caralho, Meg. Não tô falando que todo mundo era poeta. Não basta assistir “On the Road” pra sacar a realidade da época. O fato é que toda ideia interessante, pra ser assimilada por alguém, tem que ser alguma coisa que esse alguém já pensou antes. Nem que tenha dispensado instantaneamente achando “ah, isso não me interessa agora”, mas já ficou dentro da pessoa aquilo. Se o playboyzinho ouve uma música sobre a empregada que faz tudo e não tem nada em troca, não vai significar nada pra ele. Pode até achar uma melodia bonita e tal, mas não passa disso. Agora, se o filho da empregada ouve essa música, ele se empolga com aquela sensação “cara, alguém mais saca isso!”. A poesia é aquilo que dá voz pros outros, não pro poeta. Ter a alma e o coração de um não significa que vai praticar, só que você vai entender.

Don: Cara, não sei ainda se concordo ou não com isso. Mas será realmente que o povo mudou de um jeito que não prestaria atenção em alguém que falasse em uníssono? Nada de promessas políticas, mas uma manifestação artística dando voz aos anseios e aos medos.

Dexter: Não acho que o povo sequer precise disso agora.

Meg: Tá, se o povo não precisa disso, então como pode tanta gente reclamar da qualidade da arte de hoje?

Dexter: É que quem reclama são aqueles que tem algo de diferente! Quem acha que Skrillex (acho que escreve assim o nome dele) é uma barulheira sem sentido e prefere ouvir algo como Chico Buarque ou Miles Davis é quem reclama. Não adianta esperar uma reclamação dessas de alguém que não tem mais sensibilidade nenhuma!

Don: Acho que estamos alienando gente demais, velho.

Dexter: A gente sempre alienou gente demais. Nós três. Por isso pulamos nesse negócio de blog! A gente ainda tem esperança que alguém se interesse e se sensibilize com aquilo que tem sentido pra gente. Você mesmo fala, Don, que não conhece quase ninguém que se empolgue de verdade com cinema e música. A Meg vive reclamando que não curte essa literatura intelectoloide do pessoal que cerca ela, e prefere alguma coisa com substância real! “It can’t be borrowed balls, recicled balls... They gotta be FRUIT balls!”*

Don: Mas e daí? Não adianta nada a gente achar um grupo legal pra ficar elogiando uns aos outros. Tu não acha que vale mais tentarmos converter pessoas que normalmente não pensariam naquilo que valorizamos? Nunca fomos isolados, e tu sabe disso. Sempre tivemos alguém pra conversar sobre o que fosse, e foram esses contatos que nos forçaram a pensar sobre algo além do que acreditávamos. Crescemos com cada contato que vem de fora do nosso mundo, então acho que é possível tentar achar gente que não acreditava ter interesse nisso tudo.

Meg: A religião da cultura pop? “Todos saúdem o Fonzie!”**

Dexter: Olha, até pode acontecer, mas como eu disse antes, não acho que sejamos bons o bastante pra colocar na cabeça de alguém alguma coisa que já não tenha passado por lá.

Don: Eu posso ser cínico pra diabos, cara, mas não consigo acreditar que as pessoas sejam TÃO fechadas assim!

Dexter: Eu torço pra estar errado, meu! Sério! Mas olha só. Nos anos 1950 tínhamos músicos fantásticos, Chuck Berry, Muddy Waters, Miles Davis, e assim vai. Hoje temos quem?

Meg: Também dá pra pensar que hoje tem a janela pra aparecer gente desse nível, mas com um foco que se adeque à necessidade popular atual.

Don: Exato.

Dexter: E enquanto isso tem o risco de alguém com verdadeira alma de poeta estar se encolhendo num canto achando que ninguém teria vontade de prestar atenção. Perdemos uma pessoa fantástica (culturalmente falando) enquanto tentamos encontrar um universo de gente meia boca.

Don: Cara! Isso é cultura pop! Não é uma salvação, não é uma necessidade vital pra maior parte das pessoas, não é algo que vai melhorar o mundo! Isso é alimento pra quem tá afim, só isso! Tu tem que parar de agir como se pudéssemos melhorar o mundo conhecendo um artista a mais ou a menos!

Dexter: Não é a arte que melhora o mundo, eu sei disso. Pra melhorar, o povo precisa se manifestar, ok. Mas será mesmo que o povo não se manifestaria se a visão de mundo fosse um pouco mais otimista? Não é isso que a arte faz pela gente?

Meg: A arte é uma escapadinha. Quem quer fazer realmente alguma coisa não depende de uma música ou um livro! O trabalho do artista é só ajudar os outros a se sentirem diferente daquilo que tão acostumados.

Don: AH, eu tô indo nessa... Depois continuamos.

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Notas: (*) Referência ao filme Still Crazy.
(**) Referência às séries Happy Days e Family Guy

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Jazz e Vida


Relendo a postagem anterior sobre sorte, percebe-se que nosso caro colaborador (e fundador do blog) não gosta muito de elaborar sobre um assunto tão rico e constante no mundo artístico. Creio que um exemplo mais pontual e menos imaginário seria mais interessante no compartilhamento de algumas ideias.

Na primeira metade do século XX surgiu um talentoso pianista de jazz. Muitos o conhecem como Duke Ellington. Seus discos eram um sucesso incomparável no começo da carreira, mas apenas no circuito da crítica profissional. Os conhecedores técnicos do estilo consideravam o jovem Duque um rapaz genial, destinado a grandes coisas. O infeliz morria de fome, mas era gênio. Depois de anos de carreira, lançou o saudoso “Ellington Indigos”, um disco como poucos da época. Ressaltou, dessa vez, sua habilidade de pianista solo, não usando o piano meramente como instrumento de acompanhamento rítmico (como era quase que obrigatório nessa época). A crítica odiou, ele deixou de ser o gênio que era há tão pouco. Se vendeu a troco de comida, coitado. Infelizmente, somado a esse deslize imperdoável, Ellington teve uma longa carreira, manchada por esse disco, um lembrete constante do momento em que vendeu sua alma. Claro que, o que a crítica não se importou em perceber, é que é o povo que reconhece seus gênios. Ellington Indigos apresentou o jazzista ao grande público, e foi justamente esse grande público que foi capaz de levá-lo ao patamar de lenda da música pop. Pobre Duke, vendeu sua alma ao ser honesto, vendeu sua alma ao mostrar um talento recém-descoberto, vendeu sua alma pra comer, sofreu tanto nas mãos dos conhecedores que, creio eu, seu disco “Ellington at Newport”, o mais famoso e mais vendido disco que já gravou, não deve ter dado prazer nenhum a ele. Pobrezinho do artista honesto...

Então cabe a pergunta. É tão difícil assumir que a sorte teve um importante papel na epifania do jazzista? Será mesmo que não foi uma questão de sorte ele perceber que podia (e precisava) fazer algo diferente de agradar uns fracassos que só sabem falar daquilo que não entendem? O próprio evento no festival de Newport (show do qual nasceu o citado disco mais vendido de Ellington) foi surreal por si só!
O Duque estava em baixa novamente, o mundo mudava, a apreciação pelas big bands começava a se restringir aos artistas e idosos, a preferência popular era o folk, ou o blues. Vários músicos fantásticos da banda de Ellington precisaram se demitir, já que não queriam trabalhar de graça. Sobe ao palco do mais famoso festival de música popular até então uma banda desfalcada, cansada, faminta (novamente), sem fé. O show começa pra um público de senhoras analisando suas unhas, sujeitos descolados pensando no melhor caminho pra se voltar pra casa mais tarde, tentando evitar o trânsito mais pesado. Nosso amado e ignorado Duque havia prometido a Paul Gonsalves (seu saxofonista) um solo tão longo quanto este quisesse, quase soando como um presente de fim de carreira, no estilo: “Se é pra acabar, que acabemos com um pouco de classe. Se diverte, cara”.

O solo chega.

Um nervoso sax acompanhado principalmente pelos socos rítmicos no piano, um úmido, constante e quase místico acompanhamento na bateria, combinados com a harmonia demoníaca e alegre do baixo. A festa de Gonsalves e Ellington começa a contagiar o público, a dança começa a correr solta debaixo da chuva de dois dias (honestamente, Newport sempre me soou como uma escolha meio estranha pra um festival ao ar livre), 27 estrofes de improvisação instrumental intoxicam a plateia, os produtores, os outros músicos, os cachorros da vizinhança e as moscas que passavam, procurando pela plateia morta que estava ali há pouco.
Esse único solo, a escolha de Ellington de dar um presente ao membro de sua banda, a sorte de a plateia não ter ido embora ainda, tudo isso resultou num novo fôlego pra carreira do Duque, uma nova vida que não iria mais abandoná-lo.

E é nisso que o jazz, a música, a arte e até a vida se resume. A sorte de achar a próxima nota, não de forma adequada, mas de forma sublime. Nunca subestime o valor do intangível em tudo aquilo que vais fazer. Sem ele, somos só uns vasos vazios que vão quebrar com a primeira brisa de problemas.

"Sometimes you have to play a long time to be able to play like yourself."

                          - Miles Davis